Cachaça cura
Um conto por: Alice Luna
A história que vou-lhes contar é de arrepia os cabelos!
Eu era um cachaceiro de mão cheia, não parava de beber por nada! E junto com meu péssimo hábito de bebida vinha também os xingamentos que usava a toda hora e momento. Minha mulher vivia me dizendo “ O Zé, para e xingar homi! Você e essa sua boca suja só trazem coisa ruim pra nossa família”. Agora que não estou mais aqui sinto falta de ouvir Gertrude me puxar as orelhas todo dia.
Mesmo com tanta insistência da minha esposa, filha, irmãos, primos e a cambada toda, eu continuei bebendo e xingando com o maior prazer.
Até certo dia, claro.
Após uma noite de bebedeira com meus amigos no bar do seu Jonas, eu saí cambaleando em direção de minha égua que me esperava impaciente em frente do estabelecimento
Pensei me desculpar, mas tenho certeza de que da minha boca só saíram palavras sem sentido. Subi na garupa e gritei com a voz tremula “VaMoOoO dOnOtÉiAaA” Num segundo ela começou a correr em direção minha casa.
E ela ia cavalgando e cavalgando, até demais, pegamos uma rota que nunca tínhamos pegado antes. A estrada de terra era pisoteada com toda força pelos cascos fortes da Dono, o pó começou a subir deixou minha visão ainda mais embaçada.Eu comecei e ficar desesperado, e sem papas na língua comecei a xingar a pobre da égua.
De repente ela parou. E pulava para cima e pra baixo até eu cair de suas costas.
Com dificuldade consegui me erguer desengonçado, mancando em direção minha equina que parecia paralisada olhando para o norte. Após gritar e espernear tudo que eu estava sentindo percebi que ela não tinha se mexido nem um pouco, nem ao menos bufado como era de costume. Olhei na direção que estava vidrada.
Foi aí que eu o vi.
Sua presença me deixava com falta de ar, não conseguia de forma alguma puxar oxigênio para meus pulmões. O bicho começou a se aproximar em passos lentos e poderosos, seus cascos pareciam ecoar naquele lugar deserto.
Seu cheiro era forte, como o de corpos podres, e cada vez que ele chegava perto ficava mais insuportável. Eu rezei todas as orações que minha mãe me ensinou, mas ele continuava lá, me encarando. Não parecia que ia fazer mal algum, porém seus olhões vermelhos e sem vida me encaravam de uma forma perturbadora que a única coisa que podia pensar era que meu fim tinha chegado, que Deus finalmente decidiu me punir por ser um vagabundo cachaceiro.
Fechei meus olhos, não sei por quanto tempo, só sei que quando os abri de novo ele não estava mais lá. A única coisa que restou foi o seu cheiro pútrido.
Sai de lá correndo junto de Donotéia. Cheguei em casa desfalecido.
Talvez tudo o que aconteceu naquele dia tenha sido apenas efeito das bebidas que tinha tomado e se realmente for, posso dizer que foi por conta delas que eu parei de xingar.
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