Olhos de gato
Um conto por: Alice Luna
Quando era mais moço morava numa casa com um enorme jardim, seu mato era
alto e passava uma energia ruim. Sempre tive receio em brincar por lá, não tinha
um dia em que a grama não estivesse repleta de insetos que se rastejavam de
forma lenta que me deixava enojado.
Talvez por conta das constantes discussões dentro de casa e a falta de atenção
eu tenha decidido ir brincar naquele matagal. Inesperadamente, não foi tão ruim
assim, corria e me escondia naquele mundo tão diferente e nele fingia ser o rei do
lugar.
Um dia, notei um armário de metal escondido bem no cantinho de tudo, quase
imperceptível. Ele era alto, bem provavelmente por conta da minha altura na
época. Não me aproximei dele.
Após semanas observando aquele gigante de metal, eu percebi algo, algo
realmente perturbador. Uma enorme sombra negra que perambulava ao redor do
armário, ela pareceu sentir minha presença pois seu olhar penetrou em minha
alma.
A criatura vinha assombrando meus sonhos desde então, dias de sono foram me
tirados. Eu pensei que jamais voltaria naquele lugar, mas a ira tomou conta! Eu
queria dormir, eu queria ter meu lugar de volta, quem aquela sombra pensava que
era?
Não esperei o dia amanhecer, levantei-me do meu quarto e sai de fininho para não
acordar minha irmã com quem dividia o quarto. Desci as escadas descalço e fui,
na fria noite para meu reino que havia sido tomado. Os calafrios tomaram conta de
mim, a cada passo que dava em direção o armário sentia meus pés serem
consumidos por insetos minúsculos
Parei em frente do armário, ofegante. Fechei meus olhos com força e puxei a
porta, e ela não abriu. Puxei com toda minha força, até me faltar ar. A porta
finalmente estava aberta.
Abri meus olhos lentamente, estava tremulo e suando frio. Tinha sido uma
péssima ideia. Minha visão se adaptou á escuridão da noite, como eu queria que
não tivesse...
Me encontrei encarando grandes olhos laranjas parecidos com o de gatos, eles
brilhavam e pareciam me hipnotizar. Dei dois passos para trás para perceber a
silhueta da criatura que me infernizava por dias. Era gigante, e parecia se
contorcer dentro daquele armário que agora me parecia tão pequeno.
Sai correndo, para nunca mais voltar.
Próximo Conto